quinta-feira, novembro 23, 2006

(Re)cor(d)ações...

É irónico pensarmos que os nossos sentimentos são fiéis a algo físico, ou psicológico materializado não só em nós, como, e sobretudo, nos outros.
No entanto, vejo-me triste como parte da tristeza em alguém, vejo-me alegre como parte da alegria de alguém… Como parte de uma comunhão extra-sensorial que nos une...


Lá fora a chuva cai sobre as ruas de uma cidade quase deserta.
O ambiente nocturno que contemplo da minha janela remete-me para o passado. A minha tristeza faz-me recordar.


“O céu está coberto de nuvens, mas a chuva não ameaça estragar esta tarde de Novembro.

Uma leve brisa fria percorre este jardim imenso que acabamos de descobrir, quase por engano, depois de uma tentativa falhada de forma frustrante. Talvez por falta de coragem, ou por incredulidade em algo tão grande, verde e quase perfeito poder brotar de uma cidade tão densa e povoada como o Porto.

Absorvemos cada imagem bela com um novo deslumbramento, ao som de uma música sem voz, que cantava a rotina em versos… por entre os primeiros olhares cúmplices… (ainda verdes)…

Os cisnes, os patos, as árvores em trajes de Outono, quase despidas… os caminhos e passeios cheios de folhas balançadas por aquela brisa… e tu, eu, nós… ali… como crianças a experimentar algo pela primeira vez…juntos…

A colina virada para o mar… o Castelo do Queijo como recompensa pelo caminho percorrido…

No regresso todo o sentimento de descoberta volta à nossa mente. Mesmo apressados pelo autocarro que não espera por nós… pelos horários a cumprir… pelo regresso a casa…

A despedida…”


O passado diz-me que a cumplicidade existe e nunca se rompe, sendo mais irónico o acto de meditar sobre isso, como algo esotérico e não como parte de uma lição de vida.
Estamos nas pessoas que nos conhecem e elas estão em nós tanto quanto as conhecermos.
Por isso, mesmo correndo riscos de interpretação, mesmo sendo de certa forma irónico, sendo, ou não comunhão extra-sensorial, ouso copiar os sentimentos de quem conheço, de quem gosto, de quem tenho apreço; tal como ouso exprimir os meus próprios sentimentos, admitindo que são certas vezes amplificados pelo pesar, ou pela felicidade de outrem.

“No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir”

Adriana Calcanhotto

5 Comments:

Blogger Ana João said...

Somos também partes de outros sem dúvida.
O que somos nós sem os abraços, sem os afectos, sem as palavras, sem a partilha, sem a vivência em comum...?
e fazemos assim a nossa história, e vivemos asim a nossa vida...

sábado nov. 25, 05:11:00 da tarde 2006  
Blogger rokita said...

Muitas foram as palavras que escrevi.
Muitas foram as vezes em que passei por cá para as deixar. Tantas vezes quantas as que decidi não escrever nada.
Hoje a uma distância que apesar de ser pequena pareceu uma eternidade, volto este teu cantinho que tem um pedaço de nós - das nossas recordações.
As nossas (re)cor(d)ações foram-se construindo a partir dos primeiros olhares verdes e cúmplices, de despedidas marcadas pelo escape do autocarro. Num tempo que fugia e não deixava fugir. De tardes maravilhosas só porque eram as nossas tardes.
Agora que voltamos a ser realidade um no outro sinto uma alegria imensa, uma força maior e um desejo intenso de mais recordações!

quinta dez. 07, 10:14:00 da manhã 2006  
Blogger maria said...

Curioso...
Há vários anos, conheci uma frase, de um livrinho muito pequeno, que diz assim: "aprender é para alguém" e a partir dela sempre fui "fazendo" as coisas da minha vida (pelo lado profissional) ora, se pensarmos a ideia alargada a todas as coisas próprias de ser humano, de ser gente e viver no meio e com outra gente, viver é para alguém. Dizem os livros - ditos sérios - que o Homem é um ser social... pois sim, pois somos, mas não se dá o valor todo ao que essa afirmação aceite contempla: Viver só faz sentido se com e para o outro. Não?!

quinta dez. 07, 03:59:00 da tarde 2006  
Blogger isabel mendes ferreira said...

um abraço. sincero. fraterno.

quinta dez. 28, 04:26:00 da tarde 2006  
Blogger Mónica said...

A "vida" tem razões que a própria razão desconhece...

Em cada degrau que subimos levamos sempre algo connosco, quando isso não acontece ficamos incompletos. Mas a vida é feita de oportunidades e descer alguns degraus, para vir buscar algumas recordações que vão preencher vazios que existem dentro de nós é algo ousado, quem sabe arriscado mas que só quem vive saberá dizer o quanto compensou...

domingo dez. 31, 11:02:00 da manhã 2006  

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