(Re)cor(d)ações...

No entanto, vejo-me triste como parte da tristeza em alguém, vejo-me alegre como parte da alegria de alguém… Como parte de uma comunhão extra-sensorial que nos une...
Lá fora a chuva cai sobre as ruas de uma cidade quase deserta.
O ambiente nocturno que contemplo da minha janela remete-me para o passado. A minha tristeza faz-me recordar.
“O céu está coberto de nuvens, mas a chuva não ameaça estragar esta tarde de Novembro.
Uma leve brisa fria percorre este jardim imenso que acabamos de descobrir, quase por engano, depois de uma tentativa falhada de forma frustrante. Talvez por falta de coragem, ou por incredulidade em algo tão grande, verde e quase perfeito poder brotar de uma cidade tão densa e povoada como o Porto.
Absorvemos cada imagem bela com um novo deslumbramento, ao som de uma música sem voz, que cantava a rotina em versos… por entre os primeiros olhares cúmplices… (ainda verdes)…
Os cisnes, os patos, as árvores em trajes de Outono, quase despidas… os caminhos e passeios cheios de folhas balançadas por aquela brisa… e tu, eu, nós… ali… como crianças a experimentar algo pela primeira vez…juntos…
A colina virada para o mar… o Castelo do Queijo como recompensa pelo caminho percorrido…
No regresso todo o sentimento de descoberta volta à nossa mente. Mesmo apressados pelo autocarro que não espera por nós… pelos horários a cumprir… pelo regresso a casa…
A despedida…”
O passado diz-me que a cumplicidade existe e nunca se rompe, sendo mais irónico o acto de meditar sobre isso, como algo esotérico e não como parte de uma lição de vida.
Estamos nas pessoas que nos conhecem e elas estão em nós tanto quanto as conhecermos.
Por isso, mesmo correndo riscos de interpretação, mesmo sendo de certa forma irónico, sendo, ou não comunhão extra-sensorial, ouso copiar os sentimentos de quem conheço, de quem gosto, de quem tenho apreço; tal como ouso exprimir os meus próprios sentimentos, admitindo que são certas vezes amplificados pelo pesar, ou pela felicidade de outrem.
“No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir”
Adriana Calcanhotto